AS CRISES DE REPUTAÇÃO QUE MARCARAM 2019 – NA POLÍTICA INTERNACIONAL (9/10)

Das situações conjunturais agravadas – como os movimentos migratórios involuntários – aos novos conflitos – como as crises políticas nos países latino americanos –, o cenário internacional foi marcado por crises prolongadas, em 2019. Venezuela, Chile, Bolívia, Sri Lanka, entre outros, ocuparam boa parte da atenção mundial no ano que o Brexit foi reafirmado na Grã-Bretanha, os conflitos recrudesceram na Síria e o Oriente Médio permaneceu tão instável quanto uma bomba relógio.

Se as jogadas diplomáticas e as articulações extra oficiais se mantiveram nos mesmos padrões que sempre caracterizaram a política internacional, o ambiente midiático alterou significativamente a lógica das crises. Os debates, as provocações e a guerra de informação ganhou uma nova arena: o espaço das redes sociais que se configura nas mídias digitais. Notícias falsas, manipulações e fortalecimento de crenças avançaram para patamares nunca imaginados amplificando as crises.

Entre todas as situações que poderiam ser analisadas, a equipe da Verity Consultoria escolheu analisar a grave crise econômico-política que assolou o Chile e culminou em protestos generalizados. Meses de conflitos nas ruas, campanha ostensiva contra o governo de Sebastian Piñera e um legado de mortes, feridos e graves denúncias contra os Direitos Humanos recaem na conta do Governo do País. De qualquer forma, a gestão e a comunicação da crise asseguraram a permanência do Governo. Pelo menos até o final de 2019.

A gestão da crise – As manifestações começaram em outubro de 2019. Rapidamente, o governo de Piñera tomou medidas drásticas de gestão. Mudou toda a equipe ministerial, anunciou pacote de medidas – A nova agenda social – de impacto social imediato. À medida que a pressão aumentou, novas medidas foram anunciadas e, inclusive a reforma constitucional foi aceita. O ponto falho ficou por conta do enfrentamento duro das manifestações populares. O número de mortos e feridos e as imagens dos confrontos que circularam mundo afora pesam como um passivo reputacional grave sobre o Governo.

Comunicação da crise – Na comunicação da crise, o presidente chileno parecia seguir um manual das principais recomendações dos teóricos da área. Já na primeira manifestação pediu desculpas, anunciou medidas concretas e consistentes, atendeu a imprensa, usou intensivamente as mídias sociais e produziu mensagens permanentemente sobre a crise, sem fugir ao tema.

Porta-voz ­– Guardadas quaisquer ressalvas sobre a sua atuação política, a performance de Piñera como porta-voz foi profissionalíssima. Empresário bem sucedido e presidente pela segunda vez, mostrou estar no auge da preparação unindo técnica e experiência. Independente do desfecho da crise, que ainda perdura em 2020, o presidente chileno poderá entrar para a história como um mau legado político, mas certamente terá sido um bom exemplo de porta-voz. Desempenho, aliás, que muito colaborou para que ele ainda permaneça no cargo, apesar da forte pressão para renunciar.

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