CRISES DE REPUTAÇÃO QUE MARCARAM 2019 – MÁ CONDUTA (3/10)

No ano que o Papa Francisco revogou o segredo pontifício para os casos de abuso sexual que envolvem membros do clero, a Igreja Católica deu um passo importante na gestão da prolongada crise que abala a reputação da Instituição e de muitas congregações, dioceses, arquidioceses e autoridades há alguns anos. Mesmo assim, tanto na Igreja quanto em outras instituições que têm em sua natureza a proteção e desenvolvimento de crianças e jovens, os casos continuaram acontecendo, em 2019. Muitos deles com repercussão pública.

Depois da Igreja do Chile, que, em 2018 concentrou a atenção sobre os casos de pedofilia, o caso mais chocante de 2019 para os católicos foi registrado na Argentina. Dois padres foram condenados a 40 anos de prisão por abuso de meninos surdos no Instituto de Ensino Próvolo, em Mendoza. Treze vítimas foram ouvidas pela Justiça desde o início das investigações em 2004.

O Santos Futebol Clube, por exemplo, enfrentou a denúncia de que um funcionário com nove anos de casa, abusava de atletas das categorias de base, atraindo-os para sua casa e cometendo crimes sistemáticos. O profissional foi preso. O clube tentou se manter distante. Alegando o sigilo de justiça sobre o caso, evitou responder como escolhe e acompanha os profissionais contratados para atuar nas categorias de base.

Para análise e aprendizado sobre gestão de crise, a equipe da Verity Consultoria escolheu um caso surpreendente que chamou atenção pelo desfecho. A acusação de abuso sofrida por um estagiário de educação física do Colégio Magnum, de Belo Horizonte, foi um bom exemplo de como reagir em um caso de denúncia infundada. No dia 5 de outubro, houve registro de ocorrência na delegacia de proteção da criança e do adolescente de BH por parte da mãe de uma criança de três anos que frequentava a escola. Ela e mais duas mães relataram narrativas das crianças sobre situações que compreenderam ser de abuso sexual. As crianças identificaram o estagiário do professor de educação física, um profissional de 22 anos como o autor do possível crime.

Foto: G1

A gestão da crise – Da parte do Colégio Magnum houve reação imediata após as denúncias. No momento em que elas se tornaram públicas, a organização educacional já tinha medidas concretas para anunciar. A direção da escola afirmou que colocou a assessoria jurídica e o serviço de psicologia à disposição das famílias, afastou o estagiário, promoveu reuniões com o corpo docente e com familiares da turma envolvida diretamente no caso. Já após o desfecho da crise, outra atitude da escola merece destaque: ofereceu a vaga de trabalho de volta para o estagiário.

Comunicação da crise – Duas medidas concretas de comunicação podem ser destacadas. (1) As notas emitidas pela escola que afirmam, com transparência, as medidas de gestão tomadas; e (2) as aparições / breves entrevistas do profissional acusado. Na nota emitida pela escola após a conclusão do inquérito, as medidas de gestão tomadas foram apresentadas de forma analítica e houve um resgate dos compromissos da escola com seus diversos compromissos. Também chamou a atenção, a oscilação da “emoção pública”.  No auge das denúncias, um verdadeiro tribunal nas redes sociais antecipou a condenação do estagiário. A mesma fúria se voltou contra os pais após a inocência ser provada pelos investigadores. Um único grupo de pais apoiadores do profissional se manteve ao seu lado fazendo, inclusive, manifestações presenciais em frente ao colégio.

Porta-voz ­– O próprio profissional foi o porta-voz da crise. Mesmo com 22 anos e, supostamente, assustado com a repercussão do caso, ele se manifestou sempre que foi encontrado pela imprensa. Tanto em breves declarações como nas entrevistas que se dispôs a dar, foi enfático ao negar os crimes e valorizar  todas as evidências que levaram a polícia a concluir sua inocência no inquérito. Aproveitou as oportunidades, também, para deixar cara a sua percepção sobre o que motivou as mães a fazerem a denúncia. Segundo ele foi um caso de racismo.  

Próximos artigos:

AS CRISES DE REPUTAÇÃO QUE MARCARAM 2019

(4/10) Causas sociais e eventos críticos

(5/10) Crises no mundo dos negócios

(6/10) Ano difícil para a educação básica e superior

(7/10) Ambiente tecnológico digital

(8/10) Na política nacional

(9/10) Na política internacional

(10/10) Inclassificáveis