Jornalismo

Jornalista, profissional de múltiplas faces e novas competências


Quero partilhar aqui uma das reflexões que tem pautado meus dias. Vale a pena estudar jornalismo hoje? Vale a pena ser jornalista? A profissão acabou com o enfraquecimento dos grandes veículos de comunicação?

Para responder essa pergunta, reunimos 12 jornalistas formados nos últimos cinco anos na ESPM (Campus de Porto Alegre) em um bate-papo com atuais estudantes de jornalismo. O resultado foi muito acalentador.

Como venho percebendo junto com outros professores, estudantes e novos profissionais, a resposta é: há uma verdadeira transformação da vida profissional em absolutamente todas as áreas. A despeito dessa realidade, quase universal, é possível dizer que nunca tivemos tantas possibilidades interessantes para desenvolver a carreira profissional no jornalismo.

Mas vale um alerta! Não se trata mais do jornalista tradicional dos espaços convencionais de veículos ainda mais tradicionais que operam na lógica do modo de produção industrial de notícias.

Trata-se de um profissional que tem como expertise o rigor e a seriedade na apuração de informações, mas que vai além dela, que apresenta, também, a capacidade de gerir estrategicamente conteúdos relevantes para interlocutores sedentos por produtos midiáticos que atendam suas necessidades de diálogo.

Nunca tivemos tantas possibilidades interessantes para desenvolver a carreira profissional no jornalismo

São esses profissionais que na era da economia de atenção – quando se disputa verdadeira guerra para ganhar o foco das pessoas bombardeadas por um volume surreal de informações – conseguem enxergar, estrategicamente, as relações comunicacionais e recheá-las com conteúdos que podem alavancar marcas, organizações, causas e conectar propósitos.

E que conteúdos são esses? Todos aqueles que fazem sentido para o interlocutor, mas que tenham como característica central o rigor na sua construção, que sejam elaborados a partir de fontes corretas e bem apuradas, que abram espaços para conversas autênticas e incluam a interação e não se restrinjam à transmissão, que sejam horizontais e igualitários e, não mais, hierárquicos e autoritários, que não priorizem volume, mas sim qualidade.

As pessoas estão sedentas pela inspiração lúcida e profunda em suas vidas, pelas narrativas bem fundamentas, pelas histórias simples, que possam ser apreendidas no turbilhão do novo ritmo do tempo. O bombardeio indiscriminado de mensagens recebidas por todos os meios que invadiram suas vidas já não é fácil de suportar.

E é nesse contexto que se configura o novo jornalista, profissão de futuro que começa a ser demandada hoje pela sociedade. O profissional que alimenta os canais que chegam diretamente nas pessoas, sem a mediação dos grandes jornais, rádios e televisões. O profissional que, a partir do domínio da técnica das múltiplas plataformas comunicacionais, estabelece o ponto de partida para conversas dialógicas que contemplam espaços de fala sem a necessidade da tradicional síntese dialética, um profissional que se posiciona como um mediador de histórias e leituras de mundo. E em um mundo em metamorfose essa profissão se torna imprescindível.

E onde atua esse novo jornalista em um tempo que relativiza a importância das grandes empresas de comunicação? Ele pode estar em todos os lugares. Nas empresas, em organizações do terceiro setor, nos espaços acadêmicos e, nas organizações públicas e, principalmente, em seus próprios canais proporcionados pelas plataformas midiáticas na internet. Eles são blogueiros, influenciadores digitais, empreendedores de projetos inovadores, têm suas páginas, perfis, canais, produzem suas lives, seus podcasts e se adaptam às ondas tecnológicas, mas sempre mantendo o propósito de estabelecer pontes comunicacionais entre interlocutores.

Os novos desafios exigem, também, uma nova formação. É preciso estudar mais, incluir conhecimentos diversos e nunca parar de aprender. Os estudantes de jornalismo desenvolvem o conhecimento por meio das práticas profissionais e das reflexões que geram a partir delas. Aproximam-se dos números e dos dados para aprender a gerir projetos e checar informações complexas, estudam o ser humano em todo seu espaço de incertezas e dos detalhes de suas histórias sociais e individuais, complementam olhares com a inclusão de saberes distintos e investem na profundidade. Tornam-se profissionais de múltiplas competências diante de um mundo desafiador que está se reinventando. E são eles que precisam mediar a compreensão sobre essa reinvenção.

Portanto, se você ainda está com dúvidas se a profissão tem futuro, prepare-se para embarcar nela e ajudar a construir e explicar esse futuro.

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Jornalistas formados pela ESPM-Sul dialogam sobre as novas faces da profissão (Agosto 2018)

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