Rosângela Florczak | Professora e Consultora
Especialistas que montaram cenários e projetaram resultados para as eleições 2018 a partir dos critérios de formação da opinião pública levaram um susto. Assim como eles, o cidadão comum, o eleitor médio, o estrategista de campanha e o militante engajado foram surpreendidos por uma nova lógica de comunicação que desafiou tudo o que se entendia como propaganda política.
Se há um legado positivo desses tempos de duros embates eleitorais é a tomada de consciência de que um novo ambiente de comunicação está marcando as relações sociais.
A opinião pública, formada a partir do jornalismo clássico, da propaganda tradicional, da análise de pesquisas e dos apontamentos de comentaristas políticos, perdeu, drasticamente, a influência sobre os resultados das urnas.
E o que tomou lugar? A emoção compartilhada nas redes formadas nas mídias sociais. Aquelas que Manoel Castells chama de redes de indignação e esperança. Formou-se, então, a Emoção Pública.
O argumento racional baseado na informação deu lugar ao compartilhamentos de emoções. Os medos coletivos foram potencializados ao extremo pela midiatização do boca a boca promovida pelo WhatsApp. E teve medo para todos os gostos.
As produções informais e, aparentemente, espontâneas e pessoais, que circularam nas mensagens diretas, enviadas um a um pelas mais diversas redes contavam histórias comoventes de dramas como estupro, falência, desagregação de famílias, destruição de vidas, invasões, sequestro de patrimônio, cerceamento de liberdades básicas, violência e perseguição. Um cardápio completo de inseguranças, receios e pavores que estão no imaginário de cidadãos indignados.
É muito mais plausível acreditar na mensagem enviada por um amigo, um familiar ou por aquela pessoa com a qual se compartilha as mesmas crenças e revoltas, do que na propaganda do próprio candidato ou, ainda, em uma reportagem de telejornal.
E assim fez-se a nova lógica de comunicação que definiu a tomada de decisão do eleitor. É muito mais plausível acreditar na mensagem enviada por um amigo, um familiar ou por aquela pessoa com a qual se compartilha as mesmas crenças e revoltas, do que na propaganda do próprio candidato ou, ainda, em uma reportagem de telejornal.
O medo, transformado em senso comum, ganhou essa nova mídia de fácil acesso que habita a mão do cidadão e não exige conhecimento técnico apurado para produzir e compartilhar “verdades”. Cada argumento em favor ou contra os candidatos recebia, rapidamente, um conteúdo emocional: escândalos, histórias comoventes e depoimentos transtornados que circulavam em uma velocidade nunca vista, nos milhões de smartphones.
A lógica da Emoção Pública abriu espaço para estratégias questionáveis de campanha usadas por candidaturas ou por movimentos de apoio nos dois lados da polarização: a viralização, artificialmente forjada por redes de robôs. Boa parte dos conteúdos direcionados para alimentar a indignação circulavam com maior abrangência graças aos recursos técnicos disponíveis e novos o suficiente para estarem fora do controle da Lei.
Esse cenário midiático novo que mobilizou a força da emoção pública, não é circunstancial e, certamente, já estava sendo construído há algum tempo e se manterá na vida social daqui para frente. E como viveremos e manteremos nossos vínculos e relacionamentos sem a mediação dos grandes controladores da opinião pública?
É essa a pauta que precisa estar mais do que nunca na mídia tradicional, nas escolas e universidade, nas organizações e nas famílias. Será preciso, rapidamente, alfabetizar as pessoas para o uso das mídias sociais e para o diálogo nesse ambiente. O olhar crítico e o uso equilibrado se tornam urgentes para manter a saúde mental coletiva e os vínculos sociais que estabelecemos ao longo da vida, de forma mediada ou não.
#Comunicação #Eleições2018