O retrato de um executivo perfeito do século 20 envolvia, entre muitas características, duas essenciais: a capacidade de lidar com os números das muitas planilhas de controle que marcavam o cotidiano da gestão, e a imprescindível discrição para manter sigilo e proteger as informações da empresa.
Pois bem, o século 21 chegou e mudou a lógica dos negócios e das relações corporativas, transformando o perfil desejado do executivo. As planilhas e a capacidade de cálculo se transformaram em tarefa para computadores, sistemas e plataformas e o sigilo se tornou quase impossível e, cada vez mais, desnecessário, na sociedade transparente da ambiência digital.
E o executivo? Hoje mais do que um administrador, ele precisa se configurar com um líder inspirador humanizado. E é aí que entram as novas competências fundamentais para mantê-lo à frente de projetos e pessoas. Entre elas, as prioritárias competências comunicacionais. Sim, elas são imprescindíveis. Ninguém inspira, conduz, motiva e engaja sem se comunicar com excelência.
O contato dos executivos – e aqui incluímos gestores em geral – com a comunicação começou ainda no final do século passado quando se tornaram os porta-vozes de suas empresas para informar a sociedade por meio da imprensa, especialmente nos momentos ruins. Surgiram os media trainings que ensinavam esses profissionais a se portar diante das câmeras, microfones e repórteres. De lá até os dias de hoje, o comportamento social e as tecnologias deram uma grande guinada.
São muitos os executivos que detestavam essa tarefa de atender jornalistas de veículos de comunicação e que, hoje, têm saudade dos bons tempos nos quais podiam agendar, se preparar e até controlar o diálogo com a mídia. Atualmente, bem mais que porta-vozes para a imprensa, eles se tornaram o rosto das empresas com todos os interlocutores.
Executivos precisam estar preparados para se comunicar em:
- conversas significativas com seus times de gestão;
- diálogos difíceis com pessoas da organização;
- contatos cotidianos diversos com público interno, fornecedores, parceiros e pessoas que circulam pelo ambiente organizacional;
- mediação de conflitos que envolvem o ambiente de negócios dentro e fora do espaço da empresa;
- gestão dos diálogos que estabelecem em suas redes sociais – e sim, isso inclui o whatsapp e telegram;
- atendimento, não só da imprensa tradicional, mas das equipes de comunicação internas e externas que precisam da presença do líder em conteúdos produzidos sobre a empresa, suas causas e propósitos: são vídeos, textos e podcasts que entraram definitivamente para a pauta da comunicação corporativa;
- apresentações setoriais junto ao segmento no qual atuam;
- situações de crise, nas quais o desempenho do executivo pode proteger a reputação da empresa ou agravar ainda mais a crise.
São diálogos, diálogos e diálogos que tomam mais de 90% da agenda de quem está à frente de marcas, empresas e organizações do terceiro setor ou até mesmo de startups e projetos sociais.
Diante desses desafios, há duas notícias possíveis para os executivos: a primeira, que não parece ser tão positiva, é que, diferente do que pensamos por muito tempo, a comunicação não é tão natural assim e poucos sabem, efetivamente, praticá-la de forma satisfatória, especialmente em tempos de barbárie digital e caos informacional. A segunda, porém, é mais animadora: as competências comunicacionais podem e devem ser desenvolvidas pelos executivos. É preciso estudo e formação como em qualquer outra disciplina da gestão.
E como fazer para desenvolver competências comunicacionais? Três dicas.
- Compreender que não dá para fugir para as montanhas ou terceirizar a voz e o ouvido da empresa. Nenhuma assessoria, ou os famosos canais de comunicação, substituirão a importância da fala e da escuta do executivo. Comunicar é atribuição prioritária da liderança e deve estar no topo da lista das tarefas desses profissionais. Nesse caso, a palavra de ordem é: “se joga!”, ou seja pratique, pratique e pratique e analise seu desempenho, melhorando os pontos que ainda não estão bons. Cada momento comunicacional negativo deve ser fonte de aprendizado para melhorias contínuas.
- Aceitar que comunicação não é fácil, nem banal e que precisa ser estudada e praticada. Cursos, treinamentos, consultorias estão aí para ajudar os executivos no desenvolvimento de suas competências comunicacionais. O Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) de quem está à frente de projetos e pessoas deve incluir todas as oportunidades possíveis de aprender a se comunicar de forma assertiva.
- Transformar o media training em communication training porque mais do que a imprensa, há interlocutores por todos os lados no dia a dia das empresas. Uma simples conversa no elevador ou uma mensagem de whatsapp mal organizadas podem gerar desânimos, desentendimentos e até referências negativas.
Bem, compreendidas as três dicas, é nesse ponto que você pode estar se perguntando: tá, mas e as crises? Afinal, essa é uma coluna que reúne artigos para aprendermos com as crises nossas de cada dia. Calma, há uma explicação.
Executivos com boa competência comunicacional se transformam em ótimos líderes de suas organizações. Líderes bem preparados ajudam, e muito, a construir e manter laços de confiança que embasam a reputação de marcas e empresas. As crises são eventos que afetam a confiança e, por consequência, a reputação. Com executivos bem preparados, que se caracterizam pela competência comunicacional, as relações de confiança se tornam cada dia mais sólidas nas empresas, evitando ou minimizando o impacto das crises de imagem e reputação. Simples assim!